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EDITORIAL
"O verdadeiro conhecimento, deve nascer da discussão e do diálogo"
Platão (428/348 a.c.)
Um teatro naval no Caribe


À medida que 2025 se encerra, o Mar do Caribe transformou-se no palco de uma das demonstrações de força mais dispendiosas e estrategicamente questionáveis, da recente política externa americana.
A ordem do presidente Donald Trump para mobilizar uma frota naval de grande porte em direção à costa da Venezuela domina o noticiário, evocando memórias da Guerra Fria e promessas de "pressão máxima". No entanto, uma análise fria dos fatos sugere que estamos diante não de um prelúdio para uma mudança de regime, mas de uma encenação militar de alto custo, desenhada para consumo interno e fadada à irrelevância prática.
O movimento ecoa de forma preocupante, o recente fracasso diplomático dos Estados Unidos em relação ao Brasil, sugerindo que Washington insiste em uma tática de intimidação que já provou ser ineficaz no atual cenário geopolítico.
O Preço Exorbitante da Encenação
A grandiosidade visual de um grupo de ataque de porta-aviões, navegando em águas internacionais esconde uma realidade contábil severa, pois a projeção de poder americano tem um preço e ele é pago diariamente pelo contribuinte. Estima-se que manter uma frota dessas dimensões em estado de prontidão operacional — o que inclui combustível de aviação, manutenção de reatores nucleares, provisões para milhares de marinheiros e a logística de apoio — custe aos cofres americanos entre 6 a 8 milhões de dólares por dia.
Ao final de um mês, centenas de milhões de dólares terão sido consumidos apenas para manter navios circulando no horizonte de Caracas. Se a intenção não é, efetivamente, desembarcar tropas e iniciar um conflito terrestre — uma hipótese que o Pentágono ainda rejeita —, todo esse aparato serve apenas como um cenário extremamente caro.
Paradoxalmente, essa presença militar ostensiva acaba servindo aos propósitos de Nicolás Maduro, que utiliza a imagem do "inimigo imperialista" à sua porta, para justificar o aumento da repressão interna, unir ainda mais a sua base radical e de quebra, desviar a atenção da crise econômica doméstica. Trump, na prática, está financiando a propaganda do adversário que diz combater.
O escudo de Pequim e Moscou
A premissa de que a mera presença de navios de guerra americanos fará o regime chavista implodir, ignora a complexa teia de alianças, que sustenta Maduro no poder há mais de uma década. A Venezuela de 2025 não é uma "ilha" isolada, mas um ponto estratégico no tabuleiro global, onde China e Rússia possuem interesses vitais.
Moscou mantém conselheiros militares e sofisticados sistemas de defesa antiaérea como o S-300 em solo venezuelano, está monitorando a situação de perto. Qualquer ataque cirúrgico americano, carregaria o risco inaceitável de atingir pessoal ou ativos russos, escalando uma crise regional para um conflito entre potências nucleares, com consequências inimagináveis.
Simultaneamente, a China atua como o "fiador" econômico do regime. Enquanto Washington aposta no bloqueio e na ameaça, Pequim continua a comprar o petróleo venezuelano através de frotas fantasmas e canais financeiros paralelos, garantindo um fluxo de caixa mínimo para a sobrevivência de Maduro.
A "diplomacia de canhoneira" de Trump esbarra, portanto, na muralha diplomática e financeira erguida pelos rivais dos Estados Unidos. Maduro permanece encastelado não apenas por suas próprias baionetas, mas porque seus aliados internacionais garantiram que a porta dos fundos do palácio permaneça aberta e abastecida, tornando o cerco naval uma medida porosa e ineficiente.
O tiro no pé energético
Além da ineficácia política, a mobilização naval traz consigo um efeito colateral econômico que contradiz as promessas de campanha de Trump, sobre a redução do custo de vida. O mercado de energia é avesso à incerteza e a militarização de uma rota crítica de petróleo no Caribe, adiciona um "prêmio de risco" imediato ao preço do barril. A simples possibilidade de um bloqueio naval, ou de um incidente envolvendo navios petroleiros na região, gerará volatilidade nos mercados futuros.
A ironia é palpável, pois ao tentar projetar força, os Estados Unidos acabam punindo o seu próprio consumidor. O aumento na cotação do petróleo, impulsionado pelo medo de conflito, pressiona o preço da gasolina nas bombas americanas. Dessa forma, a estratégia de Trump falha duplamente, pois queima recursos fiscais na manutenção da frota e, simultaneamente, encarece a energia para a base eleitoral que ele prometeu proteger, sem obter nenhuma concessão real de Caracas.
A sombra do fiasco brasileiro
Para compreender o provável destino desta aventura venezuelana, basta olhar para o recente fiasco da política americana em relação ao Brasil. Meses antes, a Casa Branca apostou todas as fichas em uma estratégia de choque, aplicando um severo aumento de tarifas sobre produtos brasileiros (50%) e invocando a Lei Global Magnitsky contra Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A expectativa era dobrar o Judiciário brasileiro e alterar a correlação de forças políticas em Brasília, mas o resultado foi desastroso para os interesses de Washington, que ignorou as peculiaridades políticas brasileiras, com suas intrincadas tramas de poder e corrupção.
As sanções não apenas falharam em seus objetivos, como favoreceram a narrativa de soberania nacional, utilizada por Lula da Silva. As instituições brasileiras não recuaram; pelo contrário, o "tarifaço" acelerou o desacoplamento do Brasil em relação aos EUA, empurrando a maior economia da América Latina, para braços comerciais alternativos e consolidando a posição política daqueles que foram alvo das sanções. O episódio provou que a intimidação direta, quando aplicada a nações soberanas ou regimes consolidados, tende a gerar resistência em vez de submissão.
Atualmente, na Venezuela, Trump repete o mesmo roteiro, mas com atores diferentes. Substituiu-se as tarifas por navios de guerra e os juízes por um ditador, mas a lógica falha permanece: a crença de que a exibição de força bruta, será suficiente para ditar os rumos políticos de outra nação.
O desfecho provável será mais um capítulo de desgaste, onde milhões são gastos, a retórica é inflamada, mas Maduro permanece no poder, assim como as instituições brasileiras permaneceram inabaladas. Restará aos Estados Unidos apenas a conta a pagar e a constatação de que, no mundo multipolar de 2025, a diplomacia do espetáculo é um luxo caro que não entrega resultados.
A conferir.





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